quarta-feira, 4 de abril de 2012

O coelho da Alice vive lá em casa

A determinada altura - já não me lembro bem quando - deixei de usar relógio.
Habituei-me a não precisar dele. O meu dia-a-dia deu ao meu organismo todas as capacidades para se orientar sem relógio. Quando acordo normalmente adivinho as horas. Quando conduzo além do relógio do carro, tenho sempre o meu querido rádio que me vai dando esse detalhe, quando chego ao trabalho a ferramenta de trabalho tem essa indicação no canto superior direito.
Nunca pensei ter um filho tão obcecado por relógios.
O António encarnou nele o coelho da Alice no país das Maravilhas. De 5 em 5 minutos está a ver as horas, como se para ele o passar do tempo fosse um fenómeno fantástico e o que vem a seguir aos minutos é tão importante que não pode ser perdido. Chega a ser tão aflitivo que não consegue terminar uma refeição sem levantar-se 2 a 3 vezes para ir ver as horas no único relógio que existe em casa e que fica na cozinha.
Com três anos e meio questiona-me várias vezes se são "9 e 10?" - " o ponteiro pequeno está no nove e o grande está no 10 ... são nove e dez? ou são dez para as nove?"... e a seguir vem sempre a pergunta informativa "são horas de quê???" e depois para rematar "PORQUê???"... E esta saga repete-se vezes sem conta sem que nada o consiga satisfazer.
Já tentou várias vezes ficar com o relógio do pai (já não chega relógios de brincar em que os ponteiros rodam quando queremos, tem de ser à seria, se possível com os números bem visiveis...!) e ja´conseguiu dormir uma noite agarrado ao relógio do avô que lhe fez a vontade...
O coelho lá de casa vai ter um relógio à séria... e vai ser o meu timecontroller pessoal... Já que em tempos desliguei esse chip de mim, agora não vou escapar com facilidade à sagacidade com que ele marca os momentos com as horas que para ele representam momentos importantes do seu dia-a-dia...
E eu só tenho de andar na linha e deixar de ser o gato relaxado de uma vez por todas...

Sem comentários: